Liderança Libertadora: uma alavanca para o desenvolvimento e inovação

“Enquanto eu não estiver pensando em algo novo eu não estou pensando”


Eu aprendi que não há real desenvolvimento sem liberdade. A liberdade é o pilar principal para que uma pessoa se desenvolva. Falo no conceito pleno, não em desenvolvimento de competências para fazer isso ou aquilo. Mas o desenvolvimento que nos capacita a enxergar a nossa essência, através de um processo endógeno, consciente, profundo e construtivo.
Há dois anos atrás, estava almoçando na sede do Google, no Vale do Silício. A mesa parecia o último andar da Torre Eiffel. Mexicanos, indianos, americanos, europeus, brasileiros, uma mistura interessante. Eu olhei em volta e soltei uma pergunta que estava guardada há tempos: Qual o segredo? Como conectar tantas culturas diferentes em uma cultura empresarial? Como construir um ambiente tão forte de engajamento? A resposta foi uníssona: liberdade com responsabilidade.
Promover o desenvolvimento é criar um ambiente livre e favorável para o nascimento de novos líderes e, consequentemente, da inovação. Essa é uma demanda contemporânea.
Há as inúmeras definições de liderança. As tradicionais, como “a arte de comandar pessoas”, “a capacidade de influenciar pessoas em prol de um objetivo”, “a capacidade de um indivíduo de obter seguidores para aquilo que ele almeja”. E muitas outras definições, como “liderar é servir”.
Contudo, o que as empresas, a sociedade e as famílias precisam são de líderes que estimulam pessoas a serem líderes de si mesmas, pessoas independentes.
O líder que tem um elevado poder de influência e usa essa capacidade para desenvolver a independência no outro. Ou o líder que tem um perfil servidor, mas que desafia e apoia o outro na construção de um pensar, sentir e agir consciente.
Mas com certeza isso não é tarefa fácil, o ego nos empurra para a liderança vaidosa, cujos elogios pelos resultados nos afagam e nos distanciam da liderança libertadora. Uma liderança vaidosa pode até gerar bons resultados tangíveis no curto prazo, mas, no longo prazo, gera uma dependência prejudicial.
É comum vermos um executivo que vai passando por várias empresas e vai trazendo sua equipe, não é? Eu mesmo já fiz isso! Estes profissionais seguidores ficaram estimulados com os novos desafios ou possuem uma dependência inconsciente pelo chefe?
É comum um líder encantador performar e, quando sai, deixa uma legião de dependentes que não conseguem fazer a roda girar, não é?
O líder libertador é o que vai passando pelas empresas e vai deixando sucessores e empreendedores.
Há uma frase de Carl Jung que é simplesmente linda: “O inverso do amor é o poder”. Ela reflete o desempoderamento necessário para que o outro desabroche. Assim, joga-se combustível para inovação nas organizações.
O desafio do ego torna-se, então, o desafio diário. Pois os frutos de uma equipe de alta performance vão nos massageando e nos fazendo sentir heróis com suas legiões de fãs.
O ex-presidente americano Abraham Lincon é um exemplo interessante. Dizem que as pessoas entravam com grandes problemas na sala dele e saíam empoderadas com a solução encontrada por elas mesmas. Não é à toa que uma de suas famosas frases é: “A maior habilidade de um líder é desenvolver habilidades extraordinárias em pessoas comuns”
Entendo que o pilar destas habilidades extraordinárias é quando essa “pessoa comum” navega no caminho do autodesenvolvimento consciente. Admirar alguém ou tê-la como referência em algo é muito saudável, desde que incorporemos que somos independentes. Conscientes de que o poder transformador está na percepção de que somos totalmente responsáveis por nós mesmos e capazes de superar qualquer desafio.
Para isso, precisamos de líderes que não criem dependência. De uma liderança que seja capaz de fazer as asas desabrocharem no outro. Como a águia mãe, que cuida do filhote e certa hora joga-o do despenhadeiro abaixo. O filhote amedrontado bate as asas desesperadamente e percebe que já consegue voar, ganhando a liberdade.
Com isso, a forca surge com a liderança compartilhada e agregadora, a liderança que não tem medo de sombra e que cria um ambiente de liberdade para que germinem novas lideranças.
Para isso, o líder tem que trilhar profundamente o caminho do autodesenvolvimento, entendendo suas fragilidades e libertando-se das armadilhas egóicas. Diariamente exercitar a liberdade em cada ação e decisão. Percebendo no outro o caminho para o próprio desenvolvimento.
Nos antigos centros de mistérios, o conhecimento e as técnicas de autodesenvolvimento eram protegidas, até, com a morte de quem deixasse escapar. O poder estava limitado e restrito aos iniciados. Esses iniciados ocupavam importantes posições na sociedade e mantinham o abismo entre os que sabiam e os que não sabiam. No nosso tempo, os abismos continuam. Quantas pessoas estão distantes de uma vida realizadora, vivendo dia após dia como se fosse ontem? Abismos que precisam ser rompidos para que possamos ter uma sociedade mais justa e igualitária, com pessoas livres. Que não vivem em manadas seguindo inconscientemente os outros. Hoje temos uma sociedade repleta de adultos inseguros e presos em jaulas inconscientes. Precisamos que todos sejam também iniciados.
Não é à toa que a depressão está próxima de ser a principal causa de afastamento no trabalho, que o mercado de antidepressivos e reguladores de humor é um dos que mais cresce mundialmente. Uma jaula existencial que nos impulsiona para o vazio.
Por que as empresas estão loucas atrás de um propósito que engaje os colaboradores? E por que os colaboradores estão a cada dia mais desconectados com a organização? Por que é tão difícil criar um ambiente que estimule a inovação e atraia os millennials? Sou o que sou ou sou os papéis que exerço?
Na prática, as pessoas estão desconectadas com as empresas, com a sociedade (o interesse por política cai a cada ano) e desconectadas com elas mesmas.
Construir equipes capazes de alcançar resultados sempre foi o mantra da liderança. Será que isso basta? O papel social das organizações se expande, objetivando construir de equipes com pessoas livres e saudáveis.
Livres porque estão em processo consciente de desenvolvimento pessoal e profissional, livres porque percebem que o aprendizado está no caminho e não no topo, livres porque estão sempre buscando decisões conscientes para suas vidas em casa ou no trabalho, livres porque entendem sua responsabilidade e enxergam o líder como um facilitador, não como “o cara a ser seguido”, livres porque entendem que a força transformadora deve brotar dentro de si, que jogo se joga no campo e não na plateia.
Promover a liderança libertadora torna-se uma atitude altruística. Porque alcançar a liberdade interior nos permite o domínio dos instintos e impulsos que nos empurram para ações inconscientes. Deixamos, então, de ser escravos de nós mesmos.
A liderança libertadora, que parte do princípio que sua missão é contribuir para que os seres humanos sejam independentes e conscientes, potencializa pessoas, estimula a inovação e gera resultados. E, dentro deste contexto, o engajamento e a conexão com o propósito organizacional tornam-se consequências de atitudes do dia-a-dia, não apenas uma frase bonita presa na parede.
Rodrigo Goecks
rodrigogoecks@adigodesenvolvimento.com.br

6 comments on “Liderança Libertadora: uma alavanca para o desenvolvimento e inovação

  1. Excelente Rodrigo Goeks. Parabéns!
    Minhas ideiais coadunam com as suas em todos os sentidos.
    Nas minhas palavras, em palestras, eu costumo dizer que a maior herança que um líder pode deixar para seus liderados é a segurança emocional, pois esta independência gera a responsabilidade no outro de saber fazer, de ser dono dos seus caminhos, construindo suas técnicas próprias em produzir.
    Certamente, este liderado será mais feliz profissionalmente e pessoalmente em qualquer estágio de sua vida!

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