Arte nas Palavras – Um conto de inverno

Um conto para saudar a chegada do inverno – “Um último dia de inverno”

Ela era uma velha. Uma velha tão velha que não dava para saber o quanto velha era ela. Dentro daquele bosque, suas finas e firmes pernas iniciavam uma viagem. A direção era uma pequena choupana, há várias milhas dali. Para chegar até lá, deveria progredir por um dia e uma noite, sem pestanejar.

O vento que soprava suspendia as folhas secas do chão, seus cabelos brancos formavam uma bela dança pelo ar. As árvores postavam-se nuas e, assim, permitiam espaço para o enfraquecido sol vir clarear.

A velha, que era tão velha, entendia da noite e sabia dos seus desencantos. Ia a recolher iguarias que, ao longo do caminho, serviriam para lhe sustentar. Entendia que a escuridão não tardaria e com um galho seco na mão, servindo de amparo, pé ante pé, progredia diligente e, em um ritmo contínuo, se mantinha a viajar.

Passou por rios e relevos, sentiu o canto dos pássaros. Desviou de buracos, sofreu frio e alguns animais precisou enxotar. Quando o tempo já tinha se feito extenso e as pernas pediram alento, encontrou o conforto em uma pequena gruta e, lá, preparou-se para descansar.

Retomando seu destino, a velha, que era tão velha, seguia avante para o futuro. E a luz já se despedia, quando apressou suavemente o passo, para que mais distante estivesse, quando o breu lhe viesse abraçar.

A noite caiu e a escuridão criou grandeza, provocando profundas inquietações. Atenta e precisa, a caminhante sabida continuou o seu rumo, usando a intuição para lhe guiar. Barulhos chegaram e ela, mesmo tão velha, precisou de coragem para não se desviar.

Descansou em um lago, cujo reflexo da lua o fez mágico e acolhedor. Uma cena belíssima, que a velha guardou intimamente, gerando-lhe forças para o trajeto efetuar. E à sua senda voltou, serena em si mesmo, caminhante e perfeita, para o destino realizar.

Lá no alto de um pequeno morro, avistou a pretendida choupana e a plenitude lhe habitou. Com um aliviado sorriso, uma jovem gestante abriu-lhe a porta para que a velha pudesse entrar. No cume do céu, um faixo de luz reluziu, revelando a hora de aflorar. A velha lavou-se porque sua principal labuta carecia principiar.

Em pouco tempo, com um lindo bebê em mãos, a velha parteira viu seu destino se completar. Fechou suavemente seus olhos e, ao fenecer, deixou um plácido sorriso desabrochar.

Rodrigo Goecks Santos

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