Líder de Líderes

Por Jaime Moggi
Com o crescimento vertiginoso das empresas e à medida que se vai ascendendo na estrutura organizacional, é comum você ter de liderar pessoas que, por sua vez, lideram grupos de profissionais distintos ou, até mesmo, grupos compostos de outros líderes.
Habitualmente você vê um gerente com 300, 800, 2000 pessoas sob sua responsabilidade, com uma longa estrutura abaixo dele. Ou, por outro lado, na liderança de uma equipe de meia dúzia de pessoas, no entanto, cada uma delas exerce um impacto gigantesco na organização, liderando projetos que às vezes mobilizam a empresa inteira.
Liderar líderes é o desafio que se coloca a muitos gestores. O que muda na atuação de um líder nesta situação? Um líder de líderes.
Certa vez me propuseram uma imagem na qual liderar líderes seria como pastorear gatos. Os amantes de gatos sabem o quanto eles são carinhosos, leais, mas também extremamente independentes e, conscientes de sua dignidade. Um cão, se maltratado, continua procurando seu dono. Não espere isto de um gato. Winston Churchill dizia que os cães nos olham de baixo para cima, os porcos, como iguais, e, os gatos, de cima para baixo.
Agora imagine você com um bando de gatos, tendo a missão de levá-los pelas próprias pernas a algum lugar? É mais ou menos esta a situação. Se você tentar usar a força, eles vão simplesmente sumir! Ou, ignorá-lo.
Nossos amigos felinos à parte, verdadeiros líderes são pessoas independentes, confiantes, muitas vezes competitivas e muito ciosas de seu espaço. Como lidar com elas?
Na história, temos três grupos de líderes famosos, liderados por um único homem. Os marechais de Napoleão, os companheiros de Alexandre Magno e os apóstolos de Cristo.
Para Alexandre, o segredo era não pedir a seus generais e comandantes aquilo que ele mesmo não fosse capaz de fazer.
Contam que, ao chegar perto do fim do mundo conhecido (para os gregos, a Índia), Alexandre queria continuar a avançar, mas seus homens se amotinaram. Ele levantou de manhã, saiu de sua tenda e lá estava todo o exército macedônio, em pé, em sua porta. Alexandre perguntou o que queriam e um dos comandantes veteranos avançou e disse: “Meu senhor, há dez anos abandonamos nossos lares, nossas mulheres, nossos filhos, nossa pátria; queremos voltar para Macedônia. Há dez anos o viemos seguindo lealmente, agora queremos voltar”. Ao que Alexandre respondeu: “Por acaso eu não vos cobri de ouro e de glória, por acaso eu comi quando vocês tinham fome? Por acaso eu bebi quando vocês tinham sede? Por acaso eu pedi que fizessem algo que eu mesmo não tivesse feito? Por acaso algum de vocês tem mais cicatrizes do que eu?” Neste momento, rasgou sua túnica mostrando as várias cicatrizes de batalhas que tinha. “Se querem ir, que vão. E quando vocês ficarem velhos, apodrecendo nos palácios que compraram com o ouro que eu lhes dei, contem aos seus netos que deixaram seu rei sozinho no fim da terra, cercado pelos seus inimigos”. Dito isto, voltou à sua tenda. Três dias depois, Alexandre saiu e encontrou o exército em pé, à sua frente. O comandante veterano dá um passo à frente e diz: “Majestade, ordenai e obedeceremos”. Ao que Alexandre respondeu com lágrimas nos olhos: “Nós vamos voltar”.
Já Napoleão, mais cerebral, usava outros princípios. Comandantes inteligentes e com iniciativa, ele colocava em posições estratégicas. Aos comandantes inteligentes, mas sem iniciativa, ele entregava o comando de pequenas unidades, pois sabia que eram capazes de executar perfeitamente a estratégia. Comandantes burros e sem iniciativa, ele colocava na primeira linha de frente, no primeiro ataque. Comandantes burros e com iniciativa eram eliminados da cadeia de comando. Ele achava que estes faziam mais estrago dentro do que fora.
Cristo, com seus doze generais, é outro belo exemplo de líder de líderes. Quando vemos o “currículo” dos apóstolos é de chorar. Camponeses ignorantes, pescadores, cobradores de impostos (o pior que se podia ser na Judeia Romana), covardes, ladrões, analfabetos. É impressionante que com estes doze, Cristo tivesse mudado o mundo que conheceu. Ele tinha uma capacidade única de ver nas pessoas mais do que elas eram, via o que elas podiam ser. Onde vemos campônios boçais, ele via os fundadores da igreja, mártires, santos, grandes pregadores, líderes de líderes.
Olhando para nossas organizações modernas, percebemos três grandes níveis de liderança.
O líder de si mesmo – Aquele que é capaz de planejar, executar, entregar o que é necessário no prazo e na qualidade requerida.
O líder de equipe – Que é capaz de colocar a pessoa certa no lugar certo, delegar responsabilidades. Cuidar das pessoas, dar ordens sem ser autoritário (mandar gostoso, como diz um amigo meu). Fazer com que as pessoas não apenas tolerem seu comando, mas gostem de ser lideradas.
E o líder de líderes – Que é capaz de identificar futuros líderes e desenvolvê-los, de ser formador de formadores. É capaz de distribuir recursos, como pessoas, verbas e tempo, de maneira equilibrada. De quebrar as fronteiras entre as equipes e fazer com que os líderes da sua equipe colaborem entre si.
Talvez ainda possamos ter uma 4ª categoria que são os líderes visionários, aqueles capazes de engajar uma comunidade numa visão inspiradora. Capacitados para construir uma visão, compartilhar e mobilizar grandes grupos na direção desta visão.
Há um clássico da ficção científica, que é leitura obrigatória na escola de liderança de West Point (EUA), do escritor Orson Scott Card — O Jogo do Exterminador (Ender’s Game), filmado recentemente. Por sinal, e para variar, o filme fica muito a dever ao livro.
Nesta história, a humanidade — quase destruída depois de um ataque de uma raça alienígena — é salva no último minuto pelo brilhantismo estratégico de um de seus comandantes. Por conta do risco de nova ameaça começa a busca por um “líder supremo”. Alguém que pudesse comandar a frota num ataque derradeiro, de vida ou morte, ao planeta inimigo (um novo “Alexandre” ou “Napoleão”).
Para que isso fosse possível, as Nações Unidas criaram uma escola de liderança a fim de preparartodas as crianças de maior potencial, desde pequenas, submetendo-as a um treinamento brutal. Deste modo, sobressaíram-se dezenas de líderes capazes de comandar com maestria os esquadrões da gigantesca frota. Mas não alguém capaz de comandar a frota inteira. Um líder de líderes. Duas grandes esperanças fracassaram — uma por ser muito dura e fria, e, a outra, por ser muito empática. No livro é contada a história do herói, o menino Ender, no caminho para se tornar o líder de líderes.
O que eles procuravam neste comandante “supremo”?
Primeiro, alguém que não se sentisse ameaçado por trabalhar com gente mais capaz do que ele. E vale constar que no quesito estratégia e tática, alguns garotos eram verdadeiros gênios, melhores até do que Ender.
Procuravam, também, alguém que se esforçasse para tornar seus subordinados melhores do que eram. Que conseguisse tirar o melhor de cada um. Fizesse com que as pessoas percebessem que ao aceitar seus comandos, se tornariam melhores nas suas respectivas funções. Que tivesse a capacidade de avaliar o próprio desempenho de maneira muito crítica.
Um líder que baseasse sua autoridade não em elogios exagerados ou em subornar as pessoas. Mas em levá-las ao limite do seu potencial, de maneira que se orgulhassem disto.
Fácil, não? Na história esse alguém é encontrado. Mas… Deixo para vocês lerem o livro.
Você já teve um líder assim?
Que fizesse você se sentir orgulhoso do que você faz e que o fizesse aspirar ser melhor do que é?
Não? Por que não tentar sê-lo? Pode parecer impossível, mas você conhece aquela história do sujeito que viu um menino jogando pedras para o alto:
“Por que você está fazendo isto?”, ele pergunta ao garoto. “Estou querendo acertar a lua”, responde o menino.
“Você não percebe que não vai conseguir, é impossível, a lua está muito longe.”
“Pode ser. Mas eu sou o menino que joga pedras o mais alto aqui da região!”

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